Por Manuela Quaresma
O conceito de Ergodesign surgiu, há pelo menos duas décadas, com o intuito de acabar com as diferenças que existiam entre as disciplinas Ergonomia e Design. Antigamente, como apontado por vários autores (Moraes, 2001; Quaresma e Moraes, 2001; Porter e Porter, 1997, 2000; Yap, 1997), existia uma grande dificuldade de ambos os lados de entender quais eram os benefícios que uma disciplina poderia trazer para a outra. Do lado do Design, incluindo projetistas em geral, como desenhistas industriais, engenheiros e arquitetos, muitos viam a Ergonomia como um elemento complicador no desenvolvimento de um projeto, já que ela exigia estudos e análises mais aprofundados sobre o usuário e que diversos requisitos fossem cumpridos, tornando o projeto mais demorado e aumentando seus custos. Pelo lado da Ergonomia, muitos ergonomistas não conseguiam enxergar a dinâmica do processo de desenvolvimento de projeto, não conseguindo transmitir as suas descobertas aos designers de maneira sintetizada e de fácil aplicação.
Como solução, Yap (1997) concluiu que o conceito de Ergodesign poderia acabar com as divergências entre designers e ergonomistas. O autor acreditava que esta nova tecnologia otimizaria a integração das duas disciplinas no processo criativo, ao dizer que “o Ergodesign é um importante conceito desenvolvido para construir uma ponte e tornar mais eficiente uma interação entre as duas disciplinas. O Ergodesign apaga efetivamente as barreiras artificiais entre as duas disciplinas e consequentemente melhora sua aplicabilidade no processo de design. A sinergia e a simbiose dessa união resultarão numa significante melhoria da tecnologia da interdisciplinaridade para a criação de produtos, equipamentos e ambientes, em sistemas complexos”. Além de ser uma abordagem sem barreiras, iterativa e interdisciplinar o Ergodesign garante uma transformação direta de dados ergonômicos no processo de projeto e estimula a suave interação da teoria na prática.
Hoje em dia, acredita-se que este conceito já seja aplicado, mesmo que não leve o nome “ergodesign”, pois este conceito às vezes vem embutido em outros conceitos como “usabilidade”, “design centrado no usuário”, “experiência do usuário”, “design emocional”, etc., onde o foco é, na verdade, o usuário e sua relação com uma interface qualquer. Com o avanço das novas tecnologias, muitas empresas tiveram a necessidade de buscar informações sobre o usuário de seus produtos e, nesse momento, sua equipes de projeto tiveram que agregar um ergonomista ou um ergodesigner ao seu grupo. Isso é claramente visto em empresas que trabalham com a interação humano computador, como a Apple e a Nokia.
Aqui no Brasil também não é diferente, muitas empresas buscam por profissionais, em grande parte da área do design com conhecimentos de ergonomia, para o desenvolvimento de seus produtos, principalmente no ramo de interfaces eletrônicas como a Globo.com e empresas de telefonia celular. Além do meio profissional, no acadêmico o ergodesign também ficou bastante difundido com os projetos de pesquisa realizados nos mestrados e doutorado em Design da PUC-Rio, da UNESP-Bauru e da UFPE nas suas linhas de pesquisa em Ergonomia, assim como com o Congresso Ergodesign, que ocorre anualmente há 7 anos em cidades brasileiras, divulgando estas pesquisas.
Cada vez mais se busca atender as necessidades do usuário no desenvolvimento de um projeto, seja ele um produto, um ambiente, uma interface computadorizada ou um serviço. As empresas atualmente que não atendem as necessidades do usuário certamente deixarão de existir, pois a competição é cada vez mais forte e os usuários estão mais exigentes. Isto pode ser percebido na indústria automobilística, que há anos vem trabalhando com a ergonomia no desenvolvimento de seus automóveis. Os veículos de passeio que não atendam a muitos requisitos ergonômicos em seus projetos, é bem provável que não emplaquem no mercado. Um exemplo simples é o alcance dos pedais ou de controles prioritários no painel de instrumentos. Se em algum veículo este requisito ergonômico não for considerado, o carro simplesmente não irá funcionar e não será vendido. Portanto, é muito importante que o conceito de Ergodesign esteja na base do processo de projeto, junto obviamente com as outras áreas de desenvolvimento como o Marketing e a Engenharia.
MORAES, Anamaria. Ergonomia, Ergodesign e Usabilidade: Algumas Histórias, Precursores; Divergências e Convergências. In: Anais do I Ergodesign 2001 – I Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano-Tecnologia. Rio de Janeiro: LEUI – PUC-Rio, 2001.
PORTER, C.S.; PORTER, J. M.. Communication of ergonomics information to student designers: Are we improving?. In: XIVth Triennial Congress of the International Ergonomics Association and 44th Annual Meeting of the Human Factors and Ergonomics Society. Ergonomics for the New Millennium. San Diego: HFES, 2000.
PORTER, C.S.; PORTER, J. M.. The interface between ergonomists and product designers. In: 13th Triennial Congress of the International Ergonomics Association. From Experience to Innovation. Helsinki: Finnish Institute of Occupational Health, 1997.
QUARESMA, Manuela; MORAES, Anamaria. Ergodesign: uma solução para a interação Ergonomia-Design. In: Anais do I Ergodesign 2001 – I Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano-Tecnologia. Rio de Janeiro: LEUI – PUC-Rio, 2001.
YAP, Leong; VITALIS, Tony; LEGG, Stephen. Ergodesign: from description to transformation. In: 13th Triennial Congress of the International Ergonomics Association. From Experience to Innovation. Helsinki: Finnish Institute of Occupational Health, 1997.
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